Ainda me lembro da primeira vez em que usei uma caneta para fins artísticos.
Estava um dia de sol como muitos dos dias de Verão.
O mar fazia-se ouvir lentamente, arrastando-se na costa ali abaixo. Eu, como seria de esperar, estava sentado a escrever e divagar. Na praia não se via mais ninguém. Finalmente a calma. O Sol em baixo. Finalmente a calma.
Quando o Sol se escapou, consegui finalmente começar a escrever livremente. As palavras fluíam numa sucessão desordenada com música, ritmo e melodia e elas acoplada. Tudo corria bem. Nem mesmo a suave brisa fresca de uma noite de Verão na praia me perturbava minimamente.
Quando escrevia, quando a escrita fluía dos meus dedos através da caneta, desbravando por branco papel, virgem, um momento de calma abstracção.
Estava só, no entanto sentia-me acompanhado.
O meu transe criativo foi interrompido por um inesperado barulho no meio da solidão.
O som indistinto surgiu da escuridão.
Um trilho vermelho de sangue na areia, no chão.
No fim um vulto. A Lua estava alta.
Consegui ainda lhe ver a cara e a sua terrível expressão de medo e apreensão enquanto tentava proferir umas palavras e um esguincho de sangue do pescoço para o chão:
"...cabrão..."
Calou-se. Perdeu a expressão.
Nada mais do que a minha imaginação.
Quando acordei de novo era outro dia.
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Sentado observando a vida a passar.
Num piscar de olhos vejo-me a sonhar.
Um dia sonheir que teria de finalmente acordar.
Nesse mesmo dia acordei ao primeiro raiar.
O Sol estava forte mas isso pouco interessa.
---
Atingi-lhe na jugular.
Num movimento coordenado,
como se estivesse a dançar,
levantei-me rapidamente e numa rotação quarto-circular,
com a minha Parker na mão direita, espetei-a fundo, deixando-o num estado interessantemente particular.
Aquela surpresa mórbida no olhar.
Esse foi o meu jantar.
27.5.09
Draft
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